Existem vários momentos na vida das pessoas que se podem intitular como crises, e todos nós experienciamos momentos de crise ao longo do nosso desenvolvimento, tenham elas uma origem interna ou externa.
Tendencialmente, num momento de crise, temos a sensação de falta de controlo e/ou de competências para lidar com a situação. Sentimo-nos vulneráveis, ficamos desorganizados e activamos um leque de pensamentos negativos que geram angústia, frustração, medo, ansiedade, irritabilidade, entre outros. A nossa regulação emocional e a nossa activação de comportamentos adaptativos encontram-se desafiadas, e a nossa capacidade de processar informação e resolver problemas também se encontra diminuída. Por isso, recorremos a estratégias ineficazes de resolução de problemas e a nossa flexibilidade cognitiva bem como a capacidade de gestão emocional, são igualmente afectadas.
É claro que não somos todos iguais e que o que constitui uma crise para um indivíduo pode não ter o mesmo efeito noutro indivíduo. Para além disso, os recursos cognitivos, emocionais e comportamentais são também variáveis. Todavia, uma crise gera sempre alterações internas, mesmo quando se deve a elementos externos, e às quais devemos estar atentos e procurar suporte para com elas lidar.
Atitudes negativas e radicais, embora que com intenção de auto e hétero-protecção, tendem a acalentar a disfuncionalidade, quer em termos cognitivos quer em termos emocionais. Assim, torna-se muito pertinente aprender a viver e a conviver com a crise que se está a experienciar, mais ainda quando esta se impõe de forma externa e as pessoas percepcionam uma perda de controlo e de autonomia sobre o seu próprio bem estar e o bem estar dos seus, no presente e no futuro.
Uma crise, como por exemplo aquela a que todo o mundo está exposto neste momento – Covid-19 – requer a pesquisa de informação fidedigna, requer responsabilidade pela saúde e qualidade de vida de todos, requer aprendizagem e não menos importante, exige a mobilização de recursos pessoais e interpessoais de enfrentamento, neutralização e adaptação a todos os factores stressores que ela acarreta.
Tendo em conta a fonte da crise que estamos a viver e que constitui um perigo para a saúde pública, salienta-se que, embora todos estejamos em re-educação e em re-adaptação, existem grupos que poderão estar mais propensos a experienciar falta de competências e recursos para lidar com as directrizes e com as consequências da pandemia, nomeadamente pessoas que sofrem de perturbações do foro ansioso, como por exemplo a Perturbação Obsessiva Compulsiva, a Perturbação de Ansiedade Generalizada, a Hipocondria e a Agorafobia.
A aprendizagem e prática de estratégias cognitivas, emocionais e comportamentais para lidar com a incerteza, a insegurança, o medo e a preocupação a fim de não incorrer em comportamentos de segurança excessivos e inapropriados, tornam-se essenciais para que se possa combater, ultrapassar e até mesmo utilizar esta crise como oportunidade de crescimento pessoal e social.
(Con)viver com a crise e erradicá-la depende de todos.