Quantcast
Channel: NeuroImprove Clinic
Viewing all articles
Browse latest Browse all 37

Neurofeedback: O Primeiro Passo EEG Quantitativo e Brainmapping

$
0
0

A intervenção com recurso ao Neurofeedback tem início com uma avaliação inicial, de cariz fisiológica, na qual se pretende avaliar o padrão de ativação cerebral de um dado paciente. Esta avaliação é feita com recurso à eletroencefalografia.

Um eletroencefalagrama (EEG) é um exame indolor e não invasivo que permite medir a atividade elétrica produzida pelo cérebro. Esta atividade elétrica, de intensidade muito baixa, é passível de ser medida ao nível do escalpe através de elétrodos, que são instrumentos muito sensíveis às diferenças de potencial elétrico ou de voltagem. Através deste exame obtemos uma representação gráfica daquela que será a atividade elétrica captada ao nível do escalpe do paciente, conforme exemplificado na figura 1.

Figura 1

Num EEG Quantitativo (qEEG), os dados recolhidos através do EEG não são analisados em bruto, como acontece, por exemplo, para verificar a presença ou não de atividade epiléptica. Em vez disso, as frequências EEG são comparadas com uma base de dados normativa, na qual constam os registos eletroencefalográficos de pessoas da mesma idade e do mesmo sexo, e sem historial de doença psiquiátrica ou neurológica. Esta comparação é feita com base na incidência de cada um dos tipos de ondas que podem ser observados num EEG.

O registo eletroencefalográfico é feito sob a forma de ondas cerebrais que, dependendo da sua frequência (velocidade a que se repetem ao longo do registo), podem ser agrupadas em cinco grupos:

  • Delta
  • Teta
  • Alfa
  • Beta e High Beta
  • Gama

A unidade Hz (hertz) é uma unidade de medida de frequência, o que significa que a um maior valor em Hz de um dos tipos de onda corresponde um tipo de atividade de maior frequência. É, portanto, correto afirmar que as ondas do tipo Beta têm uma maior frequência (são mais rápidas, ou repetem-se mais vezes nos mesmo espaço de tempo) que, por exemplo, as ondas do tipo Delta (Figura 2).

Figura 2

Todos estes tipos de atividade estão presentes em simultâneo no EEG registado num paciente. A questão que se pretende ver respondida com o qEEG é se algum destes tipos de atividade é produzido em excesso ou em defeito no cérebro da pessoa em questão, tendo em conta o seu sexo e a sua idade. É nesta comparação que consiste o Brainmapping, ou mapeamento cerebral: uma representação esquemática das principais regiões do córtex cerebral, e com informação acerca dos níveis de incidência de cada um dos tipo de atividade produzida pelo cérebro nessas regiões (Figura 3).

Existem diversas modalidades de Brainmapping. Para os efeitos deste texto, o recurso à expressão refere-se ao Brainmapping neurofisiológico.

Figura 3

Os mapas cerebrais obedecem a um código de cores. As cores quentes (amarelo / laranja / vermelho) refletem excessos de um dado tipo de atividade, enquanto as cores frias (azul progressivamente mais escuro) refletem défices. A cor verde representa os níveis ideais de um dado tipo de atividade para a idade e sexo do utente. Este gradiente de cores é obtido através da comparação com a referida base de dados, onde constam os registos eletroencefalográficos de pessoas do mesmo sexo e idade, e sem historial de doença psiquiátrica ou neurológica.

Os mapas cerebrais são, portanto, instrumentos de interpretação muito fácil, que permitem ao utente ter uma boa percepção das desregulações no padrão de atividade cerebral inicial, bem como das mudanças que se vão verificando ao longo da intervenção através do Neurofeedback.

Usando como exemplo o mapa cerebral apresentado na Figura 3, a desregulação mais evidente apresenta-se na banda de frequências do tipo Teta, na qual podemos observar uma incidência excessiva na globalidade do córtex cerebral, em especial no lobo temporal do hemisfério esquerdo (região assinalada com vermelho mais escuro). A incidência da atividade do tipo Alfa apresenta-se também excessiva na globalidade do córtex cerebral, tal como a incidência da atividade do tipo Delta, sendo esta última mais evidente na região occipital do cérebro. Como exemplo de incidência deficitário, podemos referir a banda de frequências do tipo High Beta, que aparece representada com um azul muito leve na região frontal, dando assim conta de uma incidência ligeiramente deficitária deste tipo de atividade nesta região cerebral.

É importante referir que o qEEG não constitui, em si mesmo, um diagnóstico direto de um determinado quadro clínico. Existem padrões de ativação cerebral típicos de determinadas patologias, mas estes não são exclusivos, ou seja, para o mesmo quadro clínico podemos obter mapas diferentes, quer nas regiões afetadas, quer no tipo de atividade cuja incidência se apresenta desregulada. O próprio exemplo apresentado na Figura 3 é típico de um quadro de Défice de Atenção, atendendo principalmente à incidência excessiva da atividade do tipo Teta, mas estes dados têm obrigatoriamente que ser cruzados com os dados decorrentes da avaliação psicológica, bem como de outras áreas da saúde que intervenham junto do utente.

Ainda assim, o qEEG e os mapas cerebrais que dele decorrem constituem uma ferramenta essencial para a intervenção correta e eficaz através do Neurofeedback. Eles dão-nos conta das principais regiões cerebrais nas quais o quadro clínico do utente se manifesta, permitindo desta forma a elaboração de protocolos personalizados para cada caso.


Viewing all articles
Browse latest Browse all 37