As sessões de Neurofeedback são programadas de forma personalizada para cada utente, em função dos resultados obtidos através do EEG Quantitativo e do mapa cerebral decorrente (ver artigo “EEG Quantitativo e Brainmapping” | Hiperligação para o artigo). Conforme explicado no artigo anterior, esta metodologia de avaliação dá-nos conta das principais desregulações no padrão de ativação cerebral do utente, permitindo-nos perceber a sua severidade e as principais regiões cerebrais afetadas.
Para uma melhor compreensão acerca da forma como os protocolos de intervenção são criados de forma personalizada para cada utente, utilizaremos o mapa cerebral da Figura 1 como exemplo:
Figura 1
Numa primeira análise, as principais desregulações observadas no mapa cerebral deste utente encontram-se na banda de frequências do tipo Alfa. Ou seja, o EEG registado ao nível do escalpe deste utente revelou um excesso na incidência do ritmo Alfa na região sensório motora, no lobo frontal e no lobo temporal do hemisfério esquerdo. Com uma severidade menos acentuada, na banda de frequências do tipo Teta podemos igualmente observar um excesso de incidência, principalmente na região sensório motora e nos lobos temporal e frontal do hemisfério esquerdo.
Ao dar início à intervenção com recurso ao Neurofeedback, será criado um protocolo personalizado para este utente com base nestes resultados. Para este caso em particular, seria criado um protocolo que iria “guiar” o utente num processo de autorregulação através do qual ele iria reduzir a incidência dos dois tipos de atividade cerebral que apresentam uma incidência excessiva no seu registo eletroencefalográfico.
Para o efeito, numa sessão de Neurofeedback são colocados sensores nas principais regiões cerebrais afetadas e que vão fazer um registo em tempo real da atividade elétrica produzida pelo cérebro do utente durante a sessão. Ao dar início à sessão, o utente será instruído a realizar determinada tarefa. Esta tarefa só irá funcionar se o utente for capaz de modular a sua própria atividade cerebral para níveis mais próximos dos ideais, ou de referência. Para este caso em concreto, a tarefa só irá funcionar caso o paciente seja capaz de reduzir a incidência dos ritmos Teta e Alfa nas regiões onde os sensores são colocados.
Neste ponto, a questão que se coloca é em que é que consiste exatamente essa tarefa. Ela consiste essencialmente numa representação multimédia do próprio funcionamento cerebral do utente, e é com base nessa representação que o utente recebe “pistas”, ou um feedback relativo à sua própria atividade cerebral, com a oportunidade de a modular no sentido do que é ideal para si. Essa representação pode assumir vários formatos: um jogo de computador, um vídeo, um som, ou mesmo um mapa cerebral dinâmico semelhante ao da Figura 1, no qual as cores irão oscilar em função das variações na incidência de cada um dos tipos de atividade. Este leque de opções permite-nos escolher o tipo de feedback ideal, ou mais apelativo, para o utente em questão. Por exemplo, uma criança de 5 anos de idade irá provavelmente preferir fazer a sessão com recurso a jogos ou a filmes, enquanto um adulto estará mais disponível para fazer tarefas como o referido mapa cerebral dinâmico. Mas em todos os casos, o utente será recompensado (consegue jogar, consegue ver o vídeo, consegue ouvir o som,…) apenas quando o seu padrão de ativação cerebral se mover no sentido do padrão ideal ou de referência. A sua atividade cerebral é registada em tempo real e a sua representação multimédia é obtida em função deste registo (Figura 2).
Figura 2
Ao longo das sessões, o padrão de ativação do utente vai-se aproximando consistentemente do padrão ideal para a sua idade e sexo. Dependendo da severidade das desregulações observadas na avaliação inicial, este processo pode ser mais ou menos moroso, mas irá, em condições terapêuticas normais, aproximar-se significativamente do padrão de ativação ideal ou mesmo normalizar-se. Esta modulação fisiológica irá depois refletir-se a nível cognitivo, emocional ou comportamental do utente.