Conforme foi abordado nas duas publicações anteriores, o Neurofeedback é uma técnica que promove a autorregulação do padrão de ativação do cérebro. A intervenção tem início com uma avaliação inicial (ver artigo “EEG Quantitativo e Brainmapping”) que serve de base para a elaboração da intervenção personalizada junto de cada utente (ver artigo “Uma Sessão de Neurofeedback”).
Uma vez compreendidos os temas abordados nos referidos artigos, torna-se útil observar as alterações possíveis de se alcançar com recurso ao Neurofeedback, tendo como exemplo um caso real tratado na nossa clínica. Para manter o anonimato da utente em questão, iremo-nos referir a ela neste texto como “B.”.
A B. é uma criança do sexo feminino que fez a sua primeira avaliação com recurso ao EEG Quantitativo no dia 19 de maio de 2017, tendo na altura 9 anos de idade. A criança tinha o diagnóstico prévio de Défice de Atenção com Hiperatividade, encontrando-se medicada diariamente com Ritalina (Metilfenidato), 20mg. Deste quadro clínico resultavam dificuldades severas e marcadas na aprendizagem, bem como uma incapacidade notável em manter o foco numa dada tarefa por mais do que alguns segundos. Os pais, para lá de pretenderem reduzir ou eventualmente parar com esta medicação regular, não notavam diferenças significativas no comportamento e nas dificuldades da B., tendo procurado uma alternativa e visto no Neurofeedback uma solução viável.
O EEG Quantitativo da B., e o mapa cerebral que dele resulta, pode ser observado na Figura 1 em baixo:
Figura 1
A lentificação que se verifica na região frontal do cérebro, aqui percetível pela incidência excessiva de atividade lenta (Delta e Teta) é caraterística dos quadros de Défice de Atenção. No caso da B., essa lentificação era extensível a praticamente todo o córtex cerebral, como se pode deduzir pela presença de cores quentes em praticamente toda a representação esquemática do padrão de ativação cerebral. As regiões frontais e temporais aparecem, no entanto, como as mais afetadas.
Os resultados obtidos permitiram a elaboração de um protocolo de Neurofeedback personalizado para a B., tendo em vista, principalmente, a redução da incidência das atividades Delta e Teta nas regiões em que as mesmas se encontravam aumentadas.
A B. esteve presente em 25 sessões de Neurofeedback que foram desenhadas em função da sua idade e das suas necessidades. Conforme visto nos artigos anteriores, os tipos de feedback utilizados nas sessões de Neurofeedback podem assumir diversas formas, desde feedback visual a feedback auditivo, que está ou não presente em função daquele que vai sendo o padrão de ativação cerebral do utente durante a sessão.
Ao longo do tempo e das sessões pretende-se que o cérebro adopte o padrão de ativação cerebral que lhe é reforçado e estimulado durante as sessões, e que corresponde ao padrão de ativação cerebral ideal para a idade e sexo do utente. Nos mapas cerebrais resultantes das avaliações, tal padrão corresponderá à cor verde ao longo de todo o córtex cerebral. No caso da B., essa evolução foi notória, principalmente na aproximação da atividade mais lenta para padrões próximos dos ideais para o seu caso. A re-avaliação feita junto da B. pode ser observada na Figura 2:
Figura 2
Uma análise comparativa rápida com os dados da Figura 1 mostra-nos uma evidente normalização da incidência da atividade do tipo Delta em toda a extensão do córtex cerebral. A incidência da atividade do tipo Teta, embora tendo sofrido um aumento na região parietal / occipital, foi igualmente reduzida na região frontal do cérebro, região na qual a lentificação típica dos quadros de Défice de Atenção se manifesta. Houve, portanto, uma clara redução da atividade cerebral mais lenta, e que se encontrava excessivamente presente na primeira avaliação da utente.
Mais importante foi o reflexo que tais alterações tiveram no comportamento e nas dificuldades que a B. apresentava. Os pais relataram diferenças notórias na capacidade de manutenção da atenção, quer na duração quer na qualidade, bem como diferenças significativas relatadas pelos professores e agentes educativos. Ambos afirmam que “quem conheceu a B. antes e depois nota a diferença”. O uso da medicação também foi interrompido.
O caso da B. é um de entre vários nos quais o recurso ao Neurofeedback promove um notório reequilíbrio da atividade cerebral, com reflexo evidente na qualidade de vida da pessoa e nas dificuldades decorrentes de um dado quadro clínico. A intervenção não é invasiva e não acarreta efeitos secundários, promovendo de uma forma segura alterações consolidadas na qualidade de vida do utente.