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Neurofeedback e Conectividade Cerebral

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Conforme abordado nas publicações anteriores, o Neurofeedback é uma técnica que promove a autorregulação do padrão de ativação do cérebro. A intervenção tem início com uma avaliação inicial (ver artigo “EEG Quantitativo e Brainmapping”) que serve de base para a elaboração da intervenção personalizada junto de cada utente (ver artigo “Uma Sessão de Neurofeedback”).

Os dois últimos artigos publicados debruçaram-se sobre dois casos reais acompanhados na clínica NeuroImprove. No primeiro foi feita uma descrição do caso real da utente B., cuja intervenção com recurso ao Neurofeedback decorreu entre Maio de 2017 e Junho de 2018 (ver artigo “Um Caso Real – O Exemplo da B.). No último artigo foi feita uma descrição semelhante de um outro caso real, do utente L., com intervenção compreendida entre Dezembro de 2017 e Julho de 2018 (ver artigo “Um Caso Real – O Exemplo do L.). Neste útimo abordaram-se as particularidades da intervenção com recurso ao Neurofeedback na condição de olhos fechados, uma condição para a qual existem dados normativos para a elaboração do mapa cerebral e na qual se podem ver refletidas os desvios significativos no registo eletroencefalográfico do utente em questão.

Até aqui têm sido discutidos exemplos nos quais houve uma intervenção com vista a modular a incidência absoluta de cada uma das bandas de frequências (Delta, Teta, Alfa, Beta e/ou High Beta). A incidência absoluta de cada um destes ritmos é uma das medidas que podem ser extraídas de um dado eletroencefalograma. Outras medidas prendem-se com a conectividade.

Em conjunto com os dados relativos à incidência absoluta de cada uma das bandas de frequências, o eletroencefalograma quantitativo oferece-nos informação relativa à forma como o sinal eletroencefalográfico é transmitido entre diferentes regiões cerebrais. Os dados relativos à conectividade referem-se, portanto, à análise do eletroencefalograma recolhido em pelo menos dois canais. Quando realizamos um eletroencefalograma quantitativo, e tendo em conta que para o efeito utilizamos uma touca EEG de 19 canais, os dados que recolhemos relativos à conectividade dizem-nos respeito a todas as combinações de dois canais entre a totalidade dos canais da touca (ou seja, para um eletrodo frontal no hemisfério esquerdo analisaremos a comunicação deste com os restantes 18, para um eletrodo frontal no hemisfério direito analisaremos a comunicação deste com os restantes 18, e assim sucessivamente). Estes dados aparecem resumidos conforme se pode ver na Figura 1 em baixo:

Figura 1

 

Importa, neste ponto, esclarecer quais as medidas de conectividade que se extraem do EEG e em que consistem. Segue, portanto, uma breve e muito resumida descrição de cada uma das três medidas de conectividade:

 

Assimetria (Amplitude Asymetry): diz-nos se existe ou não um equilíbrio entre as ondas cerebrais provenientes de diferentes regiões cerebrais. Uma Assimetria excessiva poderá ser sinónimo de uma ativação excessiva de populações de células cerebrais, enquanto que uma Assimetria deficitária poderá ser sinónimo de uma atividade deficitária das mesmas células para a manutenção de uma função cerebral apropriada.

Coerência (Coherence): é um indicador do quão eficiente o cérebro é ao conectar e desconectar diferentes regiões para realizar uma determinada tarefa.

Phase Lag: diz-nos se a atividade elétrica do cérebro se propaga à velocidade ideal para um desempenho superior.

 

Tal como a incidência absoluta de cada um dos ritmos EEG, também a conectividade é analisada separadamente por cada banda de frequências. Na sua representação esquemática, estas medidas têm também um código de cores, sendo que as linhas (que ligam as duas regiões em análise) podem assumir a cor vermelha (excesso) ou azul (défice).

Esta interpretação ficará mais clara com o exemplo da Figura 1: podemos ver que, na banda de frequências do tipo Alfa, existem algumas desregulações relacionadas com os valores de Assimetria. Podemos concluir, por exemplo, que existe uma Assimetria deficitária entre os lobos frontal e temporal do hemisfério esquerdo (linha azul). No entanto, parecem haver valores excessivos de Assimetria entre os lobos parietal e temporal, e a região sensório motora (linhas vermelhas). O grau de desregulação, quer seja um défice ou um excesso, é-nos dado pela espessura que a linha assume.

A mesma interpretação é válida para as restantes medidas: podemos observar, por exemplo, um excesso de Coerência na banda de frequências do tipo Teta entre o lobo pré-frontal direito e o lobo temporal esquerdo. Já os valores do Phase Lag parecem ser os mais afetados neste exemplo, com várias regiões cerebrais com um valor baixo desta medida entre si.

É importante relembrar que o EEG Quantitativo e os mapas cerebrais que dele decorrem constituem uma comparação entre o padrão de ativação cerebral do utente e os dados normativos dados por uma base de dados de referência. Todos os dados devem ser interpretados como desvios ou aproximações em relação à norma, ao valores de referência de uma população sem historial de doença neurológica ou psiquiátrica, e os dados relativos às medidas de conectividade não são excepção. Elas dão-nos conta dos desvios, a existirem, dos valores conectividade obtidos no EEG do utente e a norma. Tais desvios são muitas vezes relacionáveis com a sintomatologia do utente ou consistentes com um determinado quadro clínico. O Neurofeedback, por sua vez, também permite trabalhar estes desvios e promover uma aproximação destes aos valores de referência para a pessoa intervencionada.

 

 


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