Muitos dos utentes junto de quem intervimos na nossa clínica deparam-se com dificuldades relacionadas com a manutenção da atenção numa tarefa, com qualidade e durante períodos de tempo satisfatórios. A intervenção com recurso ao Neurofeedback junto destes utentes apresenta uma elevada taxa de sucesso, em especial nos casos em que as ditas dificuldades de atenção se associam à presença excessiva de ritmos de baixa frequência (ou, se quisermos, “atividade lenta”) no eletroencefalograma do utente. Esses ritmos de baixa frequência podem estar presentes de forma constante e contínua, ou podem surgir por períodos de curtos segundos, com maior ou menor intensidade.
Para uma melhor compreensão do presente artigo, é aconselhável a consulta prévia dos artigos “EEG Quantitativo e Brainmapping” e “Uma Sessão de Neurofeedback”.
Na maioria dos casos de utentes diagnosticados com um quadro de Défice de Atenção, é possível observarmos a presença excessiva e relativamente constante de ritmos lentos, conforme é exemplo o mapa cerebral apresentado na Figura 1, em baixo:
Figura 1
No entanto, em muitos casos deparamo-nos com a presença de atividade lenta de forma esporádica, presente durante breves segundos e que, como consequência dessa brevidade, é menos apreciável nos mapas cerebrais decorrentes do eletroencefalograma. De facto, estes utentes podem apresentar um mapa cerebral muito próximo do ideal nas bandas de frequência mais baixa, tendo no entanto sérias dificuldades na manutenção da atenção decorrentes da presença destes “picos” esporádicos de atividade lenta.
A Figura 2 mostra o eletroencefalograma de um utente no qual este tipo de atividade é evidente, e é assinalada pelo retângulo vermelho:
Figura 2
É visível, por comparação com o restante traçado EEG, que as zonas assinaladas pelo retângulo vermelho apresentam uma morfologia diferente, com uma maior amplitude, mais “arredondada” e com uma frequência mais baixa. Estes períodos correspondem aos mencionados “picos” de atividade lenta, períodos esses que estão fortemente relacionados com períodos em que a atenção da pessoa em questão se desvia da tarefa que está a realizar, perde o foco e retoma passados alguns segundos.
Esta descrição corresponde a uma comum distração. Nestes momentos, a pessoa é facilmente “chamada de volta” à tarefa que estava a realizar e não manifesta outros sintomas para lá da referida perda de foco.
Por outro lado, as crises de ausência são manifestações de certos quadros de epilepsia. A sua manifestação apresenta sintomas muito semelhantes a uma simples e comum distração e, por esse motivo, são muitas vezes desvalorizados sem que o diagnóstico seja feito de imediato.
As crises de ausência são mais comuns nas crianças entre os 4 e os 14 anos, e são erroneamente interpretadas como falta de atenção e distração. Estão muitas das vezes associadas a dificuldades de aprendizagem.
A Figura 3 mostra as alterações no EEG durante uma crise de ausência. É possível ver uma lentificação generalizada do traçado, com maior amplitude na região frontal bilateral, sempre associada e intercalada com atividade mais abrupta com um formato apiculado, que é característica deste tipo de epilepsia.
Figura 3
Durante uma crise de ausência, que pode durar entre 10 a 20 segundos, podemos verificar que a criança para abruptamente a atividade que está a realizar, fica com o olhar parado/fixo, podem por vezes ser visíveis algumas alterações musculares ou motoras, como pestanejos constantes a uma frequência anormalmente rápida, estalar os lábios ou movimentos mastigatórios e movimentos com as mãos.
Durante este breve período em que a criança está a ter uma crise, a mesma não reage a quaisquer estímulos sonoros, visuais ou táteis, e quando a crise termina a criança pode retomar a atividade como se nada tivesse acontecido ou pode sofrer um breve período de confusão, sempre sem memória para o sucedido.
Deste modo, e quando há uma suspeita de Epilepsia, é necessário que as pessoas que rodeiam a criança, tais como os pais, familiares, cuidadores e professores/educadores estejam atentos e saibam interpretar e conhecer as diferenças entre uma normal distração de uma crise de ausência, para que o correto diagnóstico e intervenção sejam feitos o mais rápido possível.
Resumida e sumariamente, as principais diferenças são as seguintes:
Distração:
- Acontece com maior facilidade em momentos/situações que deixam a criança aborrecida;
- Inicia-se lentamente;
- Pode ser interrompida;
- Tende a continuar após um estímulo;
Crise de Ausência:
- Pode ocorrer em qualquer situação, incluindo durante a prática de atividade física;
- Inicia-se subitamente, sem qualquer aviso prévio;
- Não pode ser interrompida;
- Termina em cerca de 10-20 segundos.